noite como outrora nunca vista
as estrelas pareciam querer cair
com desvelo segurei uma delas
entre o polegar e o indicador
e de modo brusco, movimentei-a
move-la de lugar, ser eu passagem.
sobre minha cabeça
um mobile feito, pelo cria-dor
e cria-ação que sou me encantei, sorri
de modo ingênuo exclui o verbo chorar
anulei o sofrer sempre presente
restou alegria, ser eu feliz.
tirei o chinelo e andei vagarosamente
contemplando o grandioso e minucioso
todo pouco universo
grão de areia entre meus dedos
me causando leve incomodo
breves cócegas, ser eu leve.
olhos fechados pra ouvir o cochichar do mundo
ficar imóvel para encontrar ondas
e só, só esperar, esperar...
mas carrego por segurança amarguras
sendo assim por zelo, o tal sal em mim, não tocou
pensei com dor, por ser eu dura.
cheiro forte ainda não provado
disparou a adentrar pelas narinas
completou o vago que restava
apoderou-se do eu, encheu
nessa noite eu fui amada
ganhei sentidos, ser eu autor.
me quis pequena e frágil
me desenhei menina afável
apaguei a frigidez, fui ágil
desenhei sonhos palpáveis
não derramei lágrimas por lucidez
e ainda assim lavei a alma, ser eu água.
noturna tudo fui
rodeada de sensações
sem gosto, sem cheiro
era cem expectativa
juro, pouco sei da vida
e o que observo, escrevo
por nascer defeituosa, ser eu poeta.
Foto: Vinicius Souza |